terça-feira, 3 de dezembro de 2013

9 passos para o ensino da história negra nas escola

História do Brasil finalmente incluiu a história de nossas negras raízes nocurrículo escolar. Sem deixar para trás, claro, a origem portuguesa e a indígena, o conteúdo tem de abordar a vinda involuntária dos africanos. Isso por que, em 2003, o que já deveria ser um direito virou lei. A obrigatoriedade do tema"História e Cultura Afro-brasileira e Africana" existe desde que foi aprovada alei 10.639. A partir da sanção dessa lei, as instituições de ensino brasileiras passaram a ter de implementar o ensino da cultura africana, da luta do povo negro no país e de toda a história afro-brasileira nas áreas social, econômica e política. O conteúdo deve ser ministrado nas aulas de história e, claro, em todo o currículo escolar, como nas disciplinas de artes plásticas, literatura e música. E isso em TODAS as escolas de Ensino Fundamental e Médio das redes pública e privada.
Para se adequar à lei, cabe às escolas encontrar um modo de redesenhar as aulas para encaixar os conteúdos exigidos. Um exemplo de que isso é possível acontece no Colégio Friburgo, em São paulo. A coordenadora do Ensino Fundamental, Eni Spimpolo, conta que os resultados vão além do simples aprendizado da matéria. "Mostrando que a mistura do povo brasileiro foi feita por vários povos através dos tempos, conseguimos comparar diversas culturas, valorizá-las, promover o respeito a elas e derrubar preconceitos", conta.
Veja a seguir como as instituições de ensino podem superar as dificuldades para implantar - de verdade! - as exigências da lei em seus currículos e como você, pai, pode, e deve, contribuir nesse processo:

1."Para qualquer pessoa se afirmar como ser humano ela tem de conhecer um pouco da sua identidade, das suas origens, da sua história", diz Kabengele Munanga, professor de Sociologia da USP e vice-diretor do Centro de Estudos Africanos da instituição. No Brasil, os afro-brasileiros representam 51% da população, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2009. A intenção da lei 10.639 é contribuir para a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias por meio de práticas pedagógicas de qualidade, que incluam o estudo da influência africana na cultura nacional.

2. Segundo o professor Eduardo de Assis Duarte, a não adequação à lei está relacionada, basicamente, a três fatores: despreparo e desconhecimento dos professores com relação ao tema; pouco material de estudos produzido sobre a história e cultura dos afro-brasileiros no Brasil; preconceito de algumas instituições. "Quando a escola quer fazer, ela faz, inventa formas de suprir as carências", afirma o coordenador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para facilitar a implementação da lei 10.639, o Ministério da Educação (MEC) está criando políticas e programas voltados para ações de reconhecimento e valorização da diversidade sociocultural.

3.Para Kabenguele Munanga, professor de sociologia da USP e vice-diretor do Centro de Estudos Africanos da instituição, os livros didáticos, no Brasil, ainda não têm uma orientação que realmente contemple as raízes africanas do país. A professora de língua portuguesa Débora Adão, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Vila Ursolina, de São Paulo, concorda: "Alguns livros até mencionam piadas preconceituosas (leia acima medidas do MEC para combater esse tipo de abordagem), o que merece toda a atenção dos pais. 
Ainda assim, a vice-diretora do Colégio Sidarta, Maria Aparecida Schleier acredita que é possível encontrar materiais didáticos de qualidade e aproveitá-los em benefício dos alunos. "Os conteúdos sobre cultura e história afro-brasileira de alguns livros são bons, mas servem apenas como pontos de apoio". Ela conta que os alunos aprendem muito com atividades que vão além do conteúdo dos livros. "A música é uma ótima forma de memorizar conteúdos e, nestas aulas, passamos cantos afro-brasileiros e indígenas para os alunos".

4.Segundo o MEC (Ministério da Educação), em 2004, o CNE (Conselho Nacional de Educação) estabeleceu que a responsabilidade de regulamentar e desenvolver as diretrizes previstas pela lei 10.639 é dos Conselhos de Educação Municipais, Estaduais e do Distrito Federal. Além disso, cada sistema deve fazer o controle das unidades da sua rede de ensino encaminhando um relatório de atividades ao MEC, à SEPPIR (Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial) e ao CNE (Conselho Nacional de Educação) anualmente. 
Os gestores de ensino nas escolas devem incentivar pais e professores a discutir as bases curriculares dos projetos pedagógicos das escolas levando em conta as temáticas previstas pela lei. Também é recomendado que as escolas procurem formas de pedir financiamento para Ministério da Educação, prevendo, por exemplo, a disponibilidade de obras para qualificar os projetos pedagógicos da instituição de ensino.

5.A lei 10.639 não estabelece prazo para a implementação de suas diretrizes em 100% dos municípios brasileiros. Mas fique atento, pois existe, sim, uma determinação prevista no Plano Nacional de Implementação para que certas metas sejam cumpridas até 2015. O Texto do Plano está disponível no Portal MEC 
Uma forma de exigir que a lei seja cumprida é participar do Conselho Escolar - a representação dos pais nesse espaço é garantida pela legislação Educacional do Brasil - e elaborar, junto com os professores e gestores de ensino, o projeto pedagógico da escola. "O pai precisa ter ciência do que a escola está ensinando para o seu filho. Hoje em dia, os meios de comunicação, como e-mail e sites, ajudam a fazer isso", afirma a diretora pedagógica do Colégio Vértice, Ana Maria Gouveia Bertoni.

6.Uma das estratégias do MEC (Ministério da Educação) é a formação presencial e à distância de professores sobre o tema, através de cursos. Segundo Débora Adão, professora da Escola Estadual Vila Ursolina, de São Paulo, os professores precisam estar abertos para buscar informação em vários lugares, não apenas nos livros. "Uma dica muito importante é partir de questões que estão próximas dos alunos. Os professores devem conhecer a realidade dos estudantes para trabalhar o tema. O aluno precisa voltar para casa e ter o que contar, tem que levar essas questões para a família naturalmente", diz. 
Foi o que fez Adriana Santos da Silva, diretora da Escola Estadual Doutor Victor de Britto, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Ela procurou por conta própria cursos de especialização sobre a história e cultura afro-brasileira oferecidos pelo MEC. "Fiz dois cursos a distância que foram maravilhosos. O MEC oportuniza, mas os professores também têm que ir atrás". Com o conteúdo aprendido, Adriana desenvolveu projetos na escola onde trabalha. "Comecei a abordar o tema pela identidade cultural local, tentando quebrar aquele tabu de que no Rio Grande do Sul só tem loiros", conta a diretora. 
Com a visibilidade nacional que a escola ganhou pela boa implantação da lei 10.639, foi possível garantir um tempo específico à carga horária na instituição de ensino para a produção de estudos e atividades sobre o tema. "A Secretaria da Educação do Estado permitiu isso facilmente porque viu o trabalho que estamos fazendo na escola", comemora Adriana Santos da Silva.

7.No processo de aprendizado, vale pedir para os alunos trazerem suas dúvidas sobre as diferenças étnicas e culturais que os cercam. As perguntas podem ser elaboradas com os pais, em casa, e trazidas para a sala de aula depois. "Se queremos trabalhar a arte da cultura negra nas aulas, pedimos para os alunos trazerem informações a respeito", diz Eni Spimpolo, coordenadora do Ensino Fundamental do Colégio Friburgo. Eni conta que o Colégio tem muitos alunos negros e que, também por isso, a intenção é fazer com que os preconceitos com relação às diferenças sejam derrubados através de estudos, de pesquisas, da convivência e do respeito.

8. A família tem muito a contribuir com o principal objetivo da lei 10.639: a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias entre os brasileiros. Afinal, o aluno deve ser estimulado em casa a conversar sobre o que foi aprendido na escola. Comentar e valorizar os temas estudados facilita o aprendizado e é por isso que a participação dos pais é fundamental. 
A especialista em relações raciais na educação na Universidade de Santa Cruz, em Ilhéus, Bahia, Rachel de Oliveira, recomenda que os pais colaborem, inclusive, com sugestões de conteúdo para as aulas. "Se o pai tiver conteúdo sobre o tema, deve passá-lo à escola para incentivar a abordagem dentro do currículo da instituição".

9.Experiências fora da sala de aula são formas diferentes de abordar a cultura e história afro-brasileira. 

Fonte: Educar para crescer.

domingo, 1 de dezembro de 2013

O círculo virtuoso da sociedade leitora

Alguns setores da economia brasileira cresceram muito nos últimos anos. Para nós, educadores, o que mais chama a atenção é o segmento relacionado ao mercado editorial, principalmente no que diz respeito aos livros didáticos e de literatura. O Ministério da Educação (MEC) muito colaborou para esse cenário, comprando vultosas tiragens para distribuir às escolas - tanto de um tipo como de outro - e exigindo cada vez mais qualidade em todos os aspectos.

O número de livros lidos por ano por habitante aumenta nos países em que a leitura aparece em diversos contextos, formando um círculo virtuoso. Se as pessoas leem em casa ou no transporte público, compram livros para si e para presentear, fazem deles objeto de conversas, participam de encontros em que a literatura é o principal tema, então essa é uma nação de leitores.

O fato é que o nosso país está ficando cada vez mais e mais letrado. Editoras têm aumentado o número de lançamentos nos diversos gêneros. Nas grandes cidades, bancas de jornais vendem literatura a um preço acessível e livrarias estão se transformando em pontos de encontro da vida social e intelectual. É bonito ver, nesses estabelecimentos, os espaços tomados de leitores que aproveitam o tempo folheando os lançamentos, lendo os primeiros capítulos do livro recém-adquirido enquanto tomam um café e participando de eventos artísticos e culturais. Pais e filhos passam horas lendo histórias em almofadas gigantes em ambientes detalhadamente decorados para atrair e agradar às crianças.

No interior do Brasil, certamente isso ainda não é realidade. Contudo, vemos vários esforços do poder público para montar bibliotecas onde elas ainda não existem e ações de organizações não governamentais promovendo ações com o objetivo de facilitar o acesso às publicações nos lugares mais carentes.

Mas, afinal, como uma nação de leitores começa a se formar? Alguns dizem que é na família, com os pais lendo para as crianças, cultivando em casa uma pequena biblioteca com livros, revistas e jornais, comentando sobre as leituras que fizeram na hora das refeições e até encapando com os filhos os livros da escola para que durem mais. Tudo isso ajuda, sim, os pequenos a terem um testemunho próximo sobre a importância da leitura. Mas não basta.

Sabemos que a paixão pela leitura não vem no código genético das pessoas. Ela deve ser cultivada, incentivada e ensinada. Com isso, concluímos que a escola tem um papel crucial na formação de leitores. É lá que devem acontecer atividades significativas para que a comunidade leitora cresça cada vez mais, como destaca a reportagem de capa da revista NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR de agosto/setembro, que está nas bancas. Dar amplo acesso aos livros - sem escondê-los em caixas ou trancafiá-los na biblioteca com medo que estraguem -, organizar o acervo de modo que os alunos possam escolher o que lhes agrada, envolver professores, funcionários e pais em atividades em que romances, contos e poemas aparecem como a atração principal são algumas ações que podem ser empreendidas pelos diretores escolares.

Uma escola envolta em um clima leitor é o elemento que mais facilita o trabalho do professor, que, no fim das contas, é o responsável por fazer crescer, nas diferentes fases escolares, o gosto pela leitura literária, como tratou a reportagem de capa de NOVA ESCOLA de agosto, disponível no site www.ne.org.br. A escola pode, com isso, se tornar o exemplo nas comunidades que ainda estão engatinhando nessa área ou dar sequência, nas que já incorporaram a leitura a seus hábitos cotidianos, ao círculo virtuoso que fará da nossa sociedade uma sociedade leitora.

Fernando José de Almeida (gestao@abril.com.br) é filósofo, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e diretor de Educação da Fundação Padre Anchieta.


Fonte: Revista Educar para crescer

O repensar da avaliação escrita por Osvaldo Martins Junior

Pensar avaliação não como um produto final, mas enquanto processo é uma tarefa menos complexa, quando o profissional de educação possibilita outras formas de garantir de aprendizagem. Um dos momentos mais angustiantes para o professor, no que diz respeito à avaliação é o processo avaliativo escrito. O que cobrar? Como cobrar? Quantos conteúdos? As dicas abaixo servem principalmente para a reflexão sobre a práxis do profissional de educação dentro de uma perspectiva onde a aprendizagem é o principal objetivo.

01. Nem todos os conteúdos analisados durante um ciclo ou unidade precisam ser cobrados na avaliativa escrita, a percepção de garantia de conteúdo não deve ser analisada apenas durante este momento. O professor através das atividades desenvolvidas durante todo o ciclo ou unidade deve perceber se o conteúdo foi apreendido.
02. Volume de conteúdos nem sempre é garantia de aprendizagem. Se durante o processo você percebeu que o estudante não garantiu as competências e habilidades, qual o objetivo de cobra-lo na avaliativa? No entanto, para isso é necessário não apenas sensibilidade, mas através das atividades propostas, de metodologias diferenciadas, conseguir identificar se o conteúdo foi garantido ou não.
03. Selecione pontos importantes no conteúdo, os especialistas nas áreas de conhecimento, sabem que nem todos os elementos abordados no conteúdo são relevantes, por isso, priorize aspectos que serão fundamentais no desenvolvimento intelectual do aluno.
04. Respeite o desenvolvimento cognitivo da turma/aluno. Alguns conteúdos estudados no ensino fundamental II são revistos no Ensino Médio. O professor deve ter o olhar daquilo que é realmente relevante para aquele ano. Sem atropelar temas, discussões ou abordagens, perceba se a classe tem capacidade cognitiva de compreender pontos mais complexos do conteúdo explicitado.
05. Evite superficialidade. Elabore sua avaliativa a partir de fontes concretas de estudo: listas, apostilas, livro didático, atividades, apontamentos no caderno. É importante que os estudantes tenham segurança no material de estudo que possuem para que possam com tranquilidade e segurança perceber as fontes trabalhadas dentro do processo avaliativo escrito.
06. Esgote com metodologias diferenciadas pontos que considera relevantes no conteúdo e elabore sua avaliativa dentro dessas diversas possibilidades.

É imprescindível ter um olhar diferenciado em relação ao processo avaliativo e entender que avaliação processual não é somente quando o professor desenvolve atividades que valem nota durante todo o ciclo ou unidade. Avaliação processual é ter sensibilidade para perceber se o conteúdo trabalhado através de diferentes metodologias está sendo garantido ou não, se é possível avançar ou não. Para um processo avaliativo de qualidade e eficaz nem tudo precisa ser pontuado ou quantificado é necessário ir além das quantificações e analisar se dentro deste contexto o principal objetivo foi alcançado: a aprendizagem.


Osvaldo Martins Junior

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Educação e transformação: Trincheiras de bom ensino

Vizinho à guerra travada entre facções de traficantes, o colégio municipal Paula Fonseca, no Rio de Janeiro, impõe a seus 500 alunos dificuldades típicas de escolas brasileiras encravadas em regiões pobres e violentas. Muitas vezes, as crianças dali, com idade entre 6 e 12 anos, precisam driblar corpos estendidos no meio da rua para chegar à sala de aula e têm lições ao som de tiroteio. O cenário é a favela Jorge Turco, na Zona Norte da cidade, região que produz alguns dos piores índices de homicídio do estado. Em um ambiente tão adverso como esse, é de espantar que os estudantes apresentem alto desempenho acadêmico. O colégio Paula Fonseca figura no seleto grupo composto daqueles 2% de escolas públicas brasileiras que obtiveram as melhores notas no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), avaliação do Ministério da Educação - a média nacional é 4,6. No ranking, há ainda outra escola em situação semelhante, a Pablo Neruda, também da rede municipal carioca, esta encravada num grotão dominado por milícias (bandos de policiais e ex-policiais que atuam na ilegalidade em favelas do Rio). Com 72 anos de idade e há 26 no cargo de diretora do Paula Fonseca, Celia Tavares diz: "Além de ensinar, nosso trabalho aqui inclui transmitir valores básicos a crianças vindas da extrema miséria e de lares desestruturados". 
A fórmula exemplar dessas duas escolas que saltaram de um universo de tanta precariedade à elite do ensino público é tão básica quanto rara no Brasil. Sem nenhum luxo na infraestrutura, ambas contam com diretoras que, de tão comprometidas, chegam a fincar no pátio sua mesa de trabalho com o objetivo de conhecer os alunos e aproximar-se deles. Elas são capazes de manter uma equipe de professores fiel ao propósito de elevar as chances dos estudantes e, quando necessário, têm conseguido livrar-se dos menos eficazes - sem dar espaço à habitual condescendência. "Num lugar como este não há tempo a perder com incompetência", enfatiza Maria Joselza, há 23 anos no comando do colégio Pablo Neruda, na Zona Oeste carioca. A experiência das duas escolas reforça aquilo que os especialistas já aferiram: um diretor envolvido na rotina escolar é decisivo para o desempenho dos estudantes. "As melhores escolas do mundo são lideradas por gente hábil na tarefa de criar um ambiente estimulante para o aprendizado", resume o economista Claudio de Moura Castro, articulista de VEJA. 
Um dos mais abrangentes estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conduzido em setenta países, incluindo o Brasil, deixa claro que forjar um clima favorável ao ensino é um dos principais fatores para elevar a qualidade acadêmica. O conceito pode parecer etéreo, mas se traduz perfeitamente na realidade de colégios situados em zonas tomadas pela bandidagem. Alcançar "um bom clima", nesses casos, significa antes de tudo aproximar pais e moradores da vida escolar. É o que se vê nas duas escolas alçadas ao topo do ranking do MEC. No colégio Paula Fonseca, a própria diretora se encarrega de visitar os pais para tirar dúvidas e falar sobre as constantes dificuldades de aprendizado enfrentadas pelas crianças. Mais do que isso, ela tenta impedir que seus alunos enveredem pelo crime. Muitos vêm de famílias ligadas ao tráfico de drogas e, não raro, até já ingressaram na marginalidade. Conta Celia: "Tento explicar às mães e às crianças que elas podem ter um futuro longe do crime, e isso inclui dedicação aos estudos". Para sua frustração, ela nem sempre tem sucesso. 
Fornecer assistência extra a escolas em locais assolados por maus indicadores socioeconômicos faz parte do arcabouço de políticas educacionais que, já está provado, contribuem decisivamente para a excelência. O Chile é um caso exemplar de país que conseguiu aproximar o nível dos alunos pobres ao dos mais ricos na última década. Ali, o governo canaliza recursos, material de reforço e até consultoria pedagógica dada pela iniciativa privada a colégios considerados vulneráveis, segundo um indicador objetivo. Tudo condicionado a metas e avanços concretos. Um programa que abrange 15% das 1 064 escolas municipais do Rio norteia-se por preocupação parecida. A crianças de colégios localizados em áreas à margem do poder público são oferecidas atividades extras que as mantêm por mais tempo debruçadas sobre os estudos. Não há dúvida de que isso ajuda. Orgulhosa das notas obtidas à custa de muito esforço no exame oficial, Maria Joselza, do colégio Pablo Neruda, afirma: "Nem mesmo o pior dos ambientes é desculpa para não buscar - e atingir - um elevado padrão na sala de aula".

Destaque em meio à bandidagem
Fincadas em áreas dominadas por criminosos, as duas escolas municipais do Rio de Janeiro têm média bem superior à nacional, segundo o último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do MEC.

No território do tráfico: Paula Fonseca
Localização: favela Jorge Turco, na Zona Norte carioca
Nota no Ideb: 6,4

Reduto de milícia: Pablo Neruda
Localização: bairro da Taquara, na Zona Oeste carioca
Nota no Ideb: 7,2

Diálogos entre cultura e educação na escola

Vale dizer que, embora a escola seja o local privilegiado da apropriação do conhecimento, ela não é o único na sociedade. Em grandes cidades, como São Paulo, temos vários locais de acesso a conhecimento. Existe, ainda, todo o conhecimento que pode vir por meio da internet e de todas as tecnologias hoje disponíveis, assim como de equipamentos e projetos culturais conduzidos por organizações não governamentais.
Nesse contexto, um terceiro caminho para aproximar educação e cultura pressupõe a articulação da escola com esses vários locais de conhecimento, equipamentos e projetos de cultura, de forma que esta aliança traga um impacto positivo efetivo na aprendizagem das crianças e dos adolescentes. 
Hoje, no Brasil, há projetos conduzidos por inúmeras ONGs que são belíssimos e muito importantes no sentido de levar a crianças e jovens alternativas à indústria cultural e à grande mídia e de ampliar seu universo, por meio do resgate de tradições culturais que eles ouviram em suas casas ou que eles próprios vivenciaram, nos campos das artes plásticas, literatura, comunicação, teatro e música.
Além disso, dezenas de projetos dessas organizações no país já trabalham com um conceito de cultura mais ampliado, ou seja, não uma cultura vista apenas como evento cultural, e sim relacionada com cidadania, sustentabilidade, patrimônio cultural e outros campos. 
Esses projetos podem também atuar com as escolas, inserindo as suas especificidades, de música, teatro ou outros campos, por exemplo, a questão do letramento. Em termos práticos, a ideia é que o letramento seja um eixo central nos projetos culturais, totalmente integrado às atividades e dinâmicas, seja na letra da música, no texto do teatro, na instrução para construir um instrumento.
A abertura da escola à cultura de seu território, a escolha de uma grade curricular que valorize a pluralidade e a diversidade cultural local e o intercâmbio da escola com produções e produtores de cultura na sociedade são alguns caminhos para unir educação e cultura. Os desafios, contudo, são muitos e continuam postos, e cabe aos educadores e à sociedade engendrar novas aproximações possíveis.

Maria Alice Setubal, 58 anos, é socióloga, mestre em Ciências Políticas pela USP e doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP, presidente da Fundação Tide Setubal e diretora-presidente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), onde atua há mais de 20 anos. Foi consultora do Unicef na área educacional para a América Latina e o Caribe.

Fonte: Educar para crescer

Recuperação já! O repensar pedagógico.

Já é amplamente conhecida a premissa de que todos são capazes de aprender, sem exceção - e que cada um se desenvolve de um jeito próprio - e num ritmo particular. "Os professores sabem que a classe não responde de forma homogênea à apresentação de um conteúdo de estudo e que nem todos compreendem usando as mesmas estratégias cognitivas", explica Jussara Hoffmann, especialista em avaliação e professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O que fazer, então? Cipriano Luckesi, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), sugere a seguinte abordagem: "Se, ao verificar quem aprendeu o quê, o professor percebe que um ou mais estão com dificuldade, é preciso repensar as estratégias e materiais para eles". Ou seja, para quem acredita que ninguém vai ficar para trás, a única saída é fazer a tal recuperação sempre. Sempre significa durante todo o ano letivo. 
A chave do processo é avançar e retroceder ao mesmo tempo. Quem atingiu o esperado tem de continuar aprendendo. E os demais não devem ser abandonados, certo? "É preciso trabalhar as dúvidas em atividades, dentro da própria sala de aula, assim que elas aparecem, em vez de deixar que se acumulem", reforça Maria Celina Melchior, professora da pós-graduação em Educação e coordenadora pedagógica da Faculdade Novo Hamburgo, na Grande Porto Alegre. 
O primeiro passo do professor é diagnosticar, em detalhes, o que cada um sabe. Caso muitos tenham a mesma dificuldade: é hora do professor retomar o conteúdo de um jeito novo, pois a aula original provavelmente foi ineficaz. Se os problemas são diferentes, o segredo também é apresentar a matéria de forma a proporcionar aos que precisam a construção de outros caminhos. 

Matéria original: Nova Escola
Site de pesquisa; Educar para crescer

Vídeo: Papel das expectativas dos professores sobre a aprendizagem dos alunos por Emília Ferreiro



Fonte: Revista Nova Escola

Vídeo: Yves de La Taille explica as três dimensões educacionais do limite

 

O professor da Universidade de São Paulo (USP) Yves de La Taille explica quais são as três dimensões educacionais do limite. Ele e a professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Telma Vinha participam do Grandes Diálogos, promovido por NOVA ESCOLA, que discutiu indisciplina e educação moral.

 Fonte: Revista Nova Escola

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Howard Gardner, o cientista das inteligências múltiplas

Formado no campo da psicologia e da neurologia, o cientista norteamericano Howard Gardner causou forte impacto na área educacional com sua teoria das inteligências múltiplas, divulgada no início da década de 1980. Seu interesse pelos processos de aprendizado já estava presente nos primeiros estudos de pós-graduação, quando pesquisou as descobertas do suíço Jean Piaget (1896-1980). Por outro lado, a dedicação à música e às artes, que começou na infância, o levou a supor que as noções consagradas a respeito das aptidões intelectuais humanas eram parciais e insuficientes. Até ali, o padrão mais aceito para a avaliação de inteligência eram os testes de QI, criados nos primeiros anos do século 20 pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911) a pedido do ministro da Educação de seu país. O QI (quociente de inteligência) media, basicamente, a capacidade de dominar o raciocínio que hoje se conhece como lógico-matemático, mas durante muito tempo foi tomado como padrão para aferir se as crianças correspondiam ao desempenho escolar esperado para a idade delas. "Como o aprendizado dos símbolos e raciocínios matemáticos envolve maior dificuldade do que o de palavras, Binet acreditou que seria um bom parâmetro para destacar alunos mais e menos inteligentes", diz Celso Antunes, coordenador-geral de ensino do Centro Universitário Sant’ Anna, em São Paulo. "Mais tarde, Piaget também destacou essa dificuldade e, dessa forma, cresceu exponencialmente a valorização da inteligência lógico-matemática."

Fonte: Nova Escola

Emilia Ferreiro, a estudiosa que revolucionou a alfabetização

Nenhum nome teve mais influência sobre a educação brasileira nos últimos 30 anos do que o da psicolinguista argentina Emilia Ferreiro. A divulgação de seus livros no Brasil, a partir de meados dos anos 1980, causou um grande impacto sobre a concepção que se tinha do processo de alfabetização, influenciando as próprias normas do governo para a área, expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. As obras de Emilia - Psicogênese da Língua Escrita é a mais importante - não apresentam nenhum método pedagógico, mas revelam os processos de aprendizado das crianças, levando a conclusões que puseram em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da escrita. "A história da alfabetização pode ser dividida em antes e depois de Emilia Ferreiro", diz a educadora Telma Weisz, que foi aluna da psicolinguista.
Emilia Ferreiro se tornou uma espécie de referência para o ensino brasileiro e seu nome passou a ser ligado ao construtivismo, campo de estudo inaugurado pelas descobertas a que chegou o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) na investigação dos processos de aquisição e elaboração de conhecimento pela criança - ou seja, de que modo ela aprende. As pesquisas de Emilia Ferreiro, que estudou e trabalhou com Piaget, concentram o foco nos mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à escrita. De maneira equivocada, muitos consideram o construtivismo um método.
Tanto as descobertas de Piaget como as de Emilia levam à conclusão de que as crianças têm um papel ativo no aprendizado. Elas constroem o próprio conhecimento - daí a palavra construtivismo. A principal implicação dessa conclusão para a prática escolar é transferir o foco da escola - e da alfabetização em particular - do conteúdo ensinado para o sujeito que aprende, ou seja, o aluno. "Até então, os educadores só se preocupavam com a aprendizagem quando a criança parecia não aprender", diz Telma Weisz. "Emilia Ferreiro inverteu essa ótica com resultados surpreendentes." 

Para ler a matéria completa click aqui
Fonte: Nova Escola 

Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência

Paulo Freire (1921-1997) foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra.
Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto é, as "escolas burguesas"), que ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos. "Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade", escreveu o educador. Ele dizia que, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los.

Para ler matéria completa click aqui
Fonte: Nova Escola
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