segunda-feira, 21 de abril de 2014

Gerenciamento de Sala de Aula. Lição 01. Por Roseli Brito.

Vamos começar esclarecendo o que NÃO é gerenciamento da sala de aula.
O Gerenciamento de Sala NÃO se  trata de criar nenhum sistema de punição e recompensa. Ao invés disso, o efetivo gerenciamento da sala de aula é resguardar  que todos os alunos estejam ativamente envolvidos nas tarefas.
Deste modo o professor previne as questões que desestabilizam a gerenciamento da sala antes que elas ocorram. O professor torna-se proativo e deixa de ser reativo.
Entretanto, é difícil manter os alunos ativamente envolvidos se eles estão entediados ou desinteressados na aula.
É por isso que o tédio dos alunos é um dos maiores fatores que contribuem para que questões que desestabilizam a sala de aula apareçam com frequência.
É tarefa do professor é acender o interesse e aumentar a motivação para aprender. Como?
O melhor modo de fazer isso é criar uma conexão entre o que os alunos estão aprendendo e o que está acontecendo na vida deles. Em outras palavras, encontrar o  ponto de convergência com o que é significativo para ELES.
Em História, Artes, Língua Portuguesa e Ciências é relativamente fácil fazer isso.
Ao trabalhar, por exemplo,  a mensagem  dos `Hyppies” nos anos 70, sua roupas, seu gosto musical, peça aos alunos que façam uma lista do que hoje é considerado `rebelde`, após esta lista motive-os a compararem os modelos de expressão dos jovens nos anos 70  com os modelos que a   juventude de hoje se utiliza.
A questão primordial é, se você conseguir que os alunos `queiram`aprender então tudo o mais torna-se muito fácil.  Afinal quem tem o poder de criar um ambiente facilitador para o aprendizado é você.
Outro modo que os Professores podem aumentar a motivação para o aprendizado é utilizar perguntas que instiguem a reflexão e a crítica. Em ciências, por exemplo, ao levantar a questão da “ Gripe Suína “ que depois passou a ser chamada de gripe H1N1, instigar os alunos a refletirem o que a economia, os frigoríficos de carne suína tiveram a ver com isso.
Levantar dúvidas, instigar a reflexão, estimular o pensamento crítico acaba elevando a temperatura da discussão e faz com que os alunos se envolvam e queiram saber mais, e ao agir assim extrapolam o que está nos livros didáticos e partem para a vida real, o mundo em que vivem e passam a se apropriarem de conhecimentos que os afetam diretamente enquanto cidadãos.
Um terceiro modo de aumentar a motivação para aprender é a utilização de video. Ok, talvez pareça óbvio demais, porém muitos professores mostram o video no momento errado da lição….e sempre deixam o vídeo por ultimo.
O video não deve ser deixado para o final, ou para o fechamento daquela lição.
Ao invés de videos longos, utilize curtas, ou video clips no começo das lições para provocar os alunos e atiçar a curiosidade.
Aqui vai uma dica: você sabia que existe um site www.curtanaescola.com.br que oferece uma infinidade de curtas que podem ser assistidos no computador da escola, e podem ser usados em várias disciplinas ?
Então, vamos recapitular. As questões de gerenciamento da sala de aula estão diretamente ligadas ao tédio do aluno. Assim, o professor precisa aumentar a motivação dos alunos para aprender. Os professores podem lançar mão de três estratégias:

1.      Criar conexões entre o conteúdo e os interesses dos alunos
2.      Usar o pensamento crítico e a reflexão para gerar discussões
3.      Usar o vídeo no início das lições para cativar  o interesse e a
         curiosidade


Roseli Brito
Pedagoga - Psicopedagoga - Coach

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

9 passos para o ensino da história negra nas escola

História do Brasil finalmente incluiu a história de nossas negras raízes nocurrículo escolar. Sem deixar para trás, claro, a origem portuguesa e a indígena, o conteúdo tem de abordar a vinda involuntária dos africanos. Isso por que, em 2003, o que já deveria ser um direito virou lei. A obrigatoriedade do tema"História e Cultura Afro-brasileira e Africana" existe desde que foi aprovada alei 10.639. A partir da sanção dessa lei, as instituições de ensino brasileiras passaram a ter de implementar o ensino da cultura africana, da luta do povo negro no país e de toda a história afro-brasileira nas áreas social, econômica e política. O conteúdo deve ser ministrado nas aulas de história e, claro, em todo o currículo escolar, como nas disciplinas de artes plásticas, literatura e música. E isso em TODAS as escolas de Ensino Fundamental e Médio das redes pública e privada.
Para se adequar à lei, cabe às escolas encontrar um modo de redesenhar as aulas para encaixar os conteúdos exigidos. Um exemplo de que isso é possível acontece no Colégio Friburgo, em São paulo. A coordenadora do Ensino Fundamental, Eni Spimpolo, conta que os resultados vão além do simples aprendizado da matéria. "Mostrando que a mistura do povo brasileiro foi feita por vários povos através dos tempos, conseguimos comparar diversas culturas, valorizá-las, promover o respeito a elas e derrubar preconceitos", conta.
Veja a seguir como as instituições de ensino podem superar as dificuldades para implantar - de verdade! - as exigências da lei em seus currículos e como você, pai, pode, e deve, contribuir nesse processo:

1."Para qualquer pessoa se afirmar como ser humano ela tem de conhecer um pouco da sua identidade, das suas origens, da sua história", diz Kabengele Munanga, professor de Sociologia da USP e vice-diretor do Centro de Estudos Africanos da instituição. No Brasil, os afro-brasileiros representam 51% da população, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2009. A intenção da lei 10.639 é contribuir para a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias por meio de práticas pedagógicas de qualidade, que incluam o estudo da influência africana na cultura nacional.

2. Segundo o professor Eduardo de Assis Duarte, a não adequação à lei está relacionada, basicamente, a três fatores: despreparo e desconhecimento dos professores com relação ao tema; pouco material de estudos produzido sobre a história e cultura dos afro-brasileiros no Brasil; preconceito de algumas instituições. "Quando a escola quer fazer, ela faz, inventa formas de suprir as carências", afirma o coordenador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para facilitar a implementação da lei 10.639, o Ministério da Educação (MEC) está criando políticas e programas voltados para ações de reconhecimento e valorização da diversidade sociocultural.

3.Para Kabenguele Munanga, professor de sociologia da USP e vice-diretor do Centro de Estudos Africanos da instituição, os livros didáticos, no Brasil, ainda não têm uma orientação que realmente contemple as raízes africanas do país. A professora de língua portuguesa Débora Adão, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Vila Ursolina, de São Paulo, concorda: "Alguns livros até mencionam piadas preconceituosas (leia acima medidas do MEC para combater esse tipo de abordagem), o que merece toda a atenção dos pais. 
Ainda assim, a vice-diretora do Colégio Sidarta, Maria Aparecida Schleier acredita que é possível encontrar materiais didáticos de qualidade e aproveitá-los em benefício dos alunos. "Os conteúdos sobre cultura e história afro-brasileira de alguns livros são bons, mas servem apenas como pontos de apoio". Ela conta que os alunos aprendem muito com atividades que vão além do conteúdo dos livros. "A música é uma ótima forma de memorizar conteúdos e, nestas aulas, passamos cantos afro-brasileiros e indígenas para os alunos".

4.Segundo o MEC (Ministério da Educação), em 2004, o CNE (Conselho Nacional de Educação) estabeleceu que a responsabilidade de regulamentar e desenvolver as diretrizes previstas pela lei 10.639 é dos Conselhos de Educação Municipais, Estaduais e do Distrito Federal. Além disso, cada sistema deve fazer o controle das unidades da sua rede de ensino encaminhando um relatório de atividades ao MEC, à SEPPIR (Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial) e ao CNE (Conselho Nacional de Educação) anualmente. 
Os gestores de ensino nas escolas devem incentivar pais e professores a discutir as bases curriculares dos projetos pedagógicos das escolas levando em conta as temáticas previstas pela lei. Também é recomendado que as escolas procurem formas de pedir financiamento para Ministério da Educação, prevendo, por exemplo, a disponibilidade de obras para qualificar os projetos pedagógicos da instituição de ensino.

5.A lei 10.639 não estabelece prazo para a implementação de suas diretrizes em 100% dos municípios brasileiros. Mas fique atento, pois existe, sim, uma determinação prevista no Plano Nacional de Implementação para que certas metas sejam cumpridas até 2015. O Texto do Plano está disponível no Portal MEC 
Uma forma de exigir que a lei seja cumprida é participar do Conselho Escolar - a representação dos pais nesse espaço é garantida pela legislação Educacional do Brasil - e elaborar, junto com os professores e gestores de ensino, o projeto pedagógico da escola. "O pai precisa ter ciência do que a escola está ensinando para o seu filho. Hoje em dia, os meios de comunicação, como e-mail e sites, ajudam a fazer isso", afirma a diretora pedagógica do Colégio Vértice, Ana Maria Gouveia Bertoni.

6.Uma das estratégias do MEC (Ministério da Educação) é a formação presencial e à distância de professores sobre o tema, através de cursos. Segundo Débora Adão, professora da Escola Estadual Vila Ursolina, de São Paulo, os professores precisam estar abertos para buscar informação em vários lugares, não apenas nos livros. "Uma dica muito importante é partir de questões que estão próximas dos alunos. Os professores devem conhecer a realidade dos estudantes para trabalhar o tema. O aluno precisa voltar para casa e ter o que contar, tem que levar essas questões para a família naturalmente", diz. 
Foi o que fez Adriana Santos da Silva, diretora da Escola Estadual Doutor Victor de Britto, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Ela procurou por conta própria cursos de especialização sobre a história e cultura afro-brasileira oferecidos pelo MEC. "Fiz dois cursos a distância que foram maravilhosos. O MEC oportuniza, mas os professores também têm que ir atrás". Com o conteúdo aprendido, Adriana desenvolveu projetos na escola onde trabalha. "Comecei a abordar o tema pela identidade cultural local, tentando quebrar aquele tabu de que no Rio Grande do Sul só tem loiros", conta a diretora. 
Com a visibilidade nacional que a escola ganhou pela boa implantação da lei 10.639, foi possível garantir um tempo específico à carga horária na instituição de ensino para a produção de estudos e atividades sobre o tema. "A Secretaria da Educação do Estado permitiu isso facilmente porque viu o trabalho que estamos fazendo na escola", comemora Adriana Santos da Silva.

7.No processo de aprendizado, vale pedir para os alunos trazerem suas dúvidas sobre as diferenças étnicas e culturais que os cercam. As perguntas podem ser elaboradas com os pais, em casa, e trazidas para a sala de aula depois. "Se queremos trabalhar a arte da cultura negra nas aulas, pedimos para os alunos trazerem informações a respeito", diz Eni Spimpolo, coordenadora do Ensino Fundamental do Colégio Friburgo. Eni conta que o Colégio tem muitos alunos negros e que, também por isso, a intenção é fazer com que os preconceitos com relação às diferenças sejam derrubados através de estudos, de pesquisas, da convivência e do respeito.

8. A família tem muito a contribuir com o principal objetivo da lei 10.639: a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias entre os brasileiros. Afinal, o aluno deve ser estimulado em casa a conversar sobre o que foi aprendido na escola. Comentar e valorizar os temas estudados facilita o aprendizado e é por isso que a participação dos pais é fundamental. 
A especialista em relações raciais na educação na Universidade de Santa Cruz, em Ilhéus, Bahia, Rachel de Oliveira, recomenda que os pais colaborem, inclusive, com sugestões de conteúdo para as aulas. "Se o pai tiver conteúdo sobre o tema, deve passá-lo à escola para incentivar a abordagem dentro do currículo da instituição".

9.Experiências fora da sala de aula são formas diferentes de abordar a cultura e história afro-brasileira. 

Fonte: Educar para crescer.

domingo, 1 de dezembro de 2013

O círculo virtuoso da sociedade leitora

Alguns setores da economia brasileira cresceram muito nos últimos anos. Para nós, educadores, o que mais chama a atenção é o segmento relacionado ao mercado editorial, principalmente no que diz respeito aos livros didáticos e de literatura. O Ministério da Educação (MEC) muito colaborou para esse cenário, comprando vultosas tiragens para distribuir às escolas - tanto de um tipo como de outro - e exigindo cada vez mais qualidade em todos os aspectos.

O número de livros lidos por ano por habitante aumenta nos países em que a leitura aparece em diversos contextos, formando um círculo virtuoso. Se as pessoas leem em casa ou no transporte público, compram livros para si e para presentear, fazem deles objeto de conversas, participam de encontros em que a literatura é o principal tema, então essa é uma nação de leitores.

O fato é que o nosso país está ficando cada vez mais e mais letrado. Editoras têm aumentado o número de lançamentos nos diversos gêneros. Nas grandes cidades, bancas de jornais vendem literatura a um preço acessível e livrarias estão se transformando em pontos de encontro da vida social e intelectual. É bonito ver, nesses estabelecimentos, os espaços tomados de leitores que aproveitam o tempo folheando os lançamentos, lendo os primeiros capítulos do livro recém-adquirido enquanto tomam um café e participando de eventos artísticos e culturais. Pais e filhos passam horas lendo histórias em almofadas gigantes em ambientes detalhadamente decorados para atrair e agradar às crianças.

No interior do Brasil, certamente isso ainda não é realidade. Contudo, vemos vários esforços do poder público para montar bibliotecas onde elas ainda não existem e ações de organizações não governamentais promovendo ações com o objetivo de facilitar o acesso às publicações nos lugares mais carentes.

Mas, afinal, como uma nação de leitores começa a se formar? Alguns dizem que é na família, com os pais lendo para as crianças, cultivando em casa uma pequena biblioteca com livros, revistas e jornais, comentando sobre as leituras que fizeram na hora das refeições e até encapando com os filhos os livros da escola para que durem mais. Tudo isso ajuda, sim, os pequenos a terem um testemunho próximo sobre a importância da leitura. Mas não basta.

Sabemos que a paixão pela leitura não vem no código genético das pessoas. Ela deve ser cultivada, incentivada e ensinada. Com isso, concluímos que a escola tem um papel crucial na formação de leitores. É lá que devem acontecer atividades significativas para que a comunidade leitora cresça cada vez mais, como destaca a reportagem de capa da revista NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR de agosto/setembro, que está nas bancas. Dar amplo acesso aos livros - sem escondê-los em caixas ou trancafiá-los na biblioteca com medo que estraguem -, organizar o acervo de modo que os alunos possam escolher o que lhes agrada, envolver professores, funcionários e pais em atividades em que romances, contos e poemas aparecem como a atração principal são algumas ações que podem ser empreendidas pelos diretores escolares.

Uma escola envolta em um clima leitor é o elemento que mais facilita o trabalho do professor, que, no fim das contas, é o responsável por fazer crescer, nas diferentes fases escolares, o gosto pela leitura literária, como tratou a reportagem de capa de NOVA ESCOLA de agosto, disponível no site www.ne.org.br. A escola pode, com isso, se tornar o exemplo nas comunidades que ainda estão engatinhando nessa área ou dar sequência, nas que já incorporaram a leitura a seus hábitos cotidianos, ao círculo virtuoso que fará da nossa sociedade uma sociedade leitora.

Fernando José de Almeida (gestao@abril.com.br) é filósofo, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e diretor de Educação da Fundação Padre Anchieta.


Fonte: Revista Educar para crescer

O repensar da avaliação escrita por Osvaldo Martins Junior

Pensar avaliação não como um produto final, mas enquanto processo é uma tarefa menos complexa, quando o profissional de educação possibilita outras formas de garantir de aprendizagem. Um dos momentos mais angustiantes para o professor, no que diz respeito à avaliação é o processo avaliativo escrito. O que cobrar? Como cobrar? Quantos conteúdos? As dicas abaixo servem principalmente para a reflexão sobre a práxis do profissional de educação dentro de uma perspectiva onde a aprendizagem é o principal objetivo.

01. Nem todos os conteúdos analisados durante um ciclo ou unidade precisam ser cobrados na avaliativa escrita, a percepção de garantia de conteúdo não deve ser analisada apenas durante este momento. O professor através das atividades desenvolvidas durante todo o ciclo ou unidade deve perceber se o conteúdo foi apreendido.
02. Volume de conteúdos nem sempre é garantia de aprendizagem. Se durante o processo você percebeu que o estudante não garantiu as competências e habilidades, qual o objetivo de cobra-lo na avaliativa? No entanto, para isso é necessário não apenas sensibilidade, mas através das atividades propostas, de metodologias diferenciadas, conseguir identificar se o conteúdo foi garantido ou não.
03. Selecione pontos importantes no conteúdo, os especialistas nas áreas de conhecimento, sabem que nem todos os elementos abordados no conteúdo são relevantes, por isso, priorize aspectos que serão fundamentais no desenvolvimento intelectual do aluno.
04. Respeite o desenvolvimento cognitivo da turma/aluno. Alguns conteúdos estudados no ensino fundamental II são revistos no Ensino Médio. O professor deve ter o olhar daquilo que é realmente relevante para aquele ano. Sem atropelar temas, discussões ou abordagens, perceba se a classe tem capacidade cognitiva de compreender pontos mais complexos do conteúdo explicitado.
05. Evite superficialidade. Elabore sua avaliativa a partir de fontes concretas de estudo: listas, apostilas, livro didático, atividades, apontamentos no caderno. É importante que os estudantes tenham segurança no material de estudo que possuem para que possam com tranquilidade e segurança perceber as fontes trabalhadas dentro do processo avaliativo escrito.
06. Esgote com metodologias diferenciadas pontos que considera relevantes no conteúdo e elabore sua avaliativa dentro dessas diversas possibilidades.

É imprescindível ter um olhar diferenciado em relação ao processo avaliativo e entender que avaliação processual não é somente quando o professor desenvolve atividades que valem nota durante todo o ciclo ou unidade. Avaliação processual é ter sensibilidade para perceber se o conteúdo trabalhado através de diferentes metodologias está sendo garantido ou não, se é possível avançar ou não. Para um processo avaliativo de qualidade e eficaz nem tudo precisa ser pontuado ou quantificado é necessário ir além das quantificações e analisar se dentro deste contexto o principal objetivo foi alcançado: a aprendizagem.


Osvaldo Martins Junior

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Educação e transformação: Trincheiras de bom ensino

Vizinho à guerra travada entre facções de traficantes, o colégio municipal Paula Fonseca, no Rio de Janeiro, impõe a seus 500 alunos dificuldades típicas de escolas brasileiras encravadas em regiões pobres e violentas. Muitas vezes, as crianças dali, com idade entre 6 e 12 anos, precisam driblar corpos estendidos no meio da rua para chegar à sala de aula e têm lições ao som de tiroteio. O cenário é a favela Jorge Turco, na Zona Norte da cidade, região que produz alguns dos piores índices de homicídio do estado. Em um ambiente tão adverso como esse, é de espantar que os estudantes apresentem alto desempenho acadêmico. O colégio Paula Fonseca figura no seleto grupo composto daqueles 2% de escolas públicas brasileiras que obtiveram as melhores notas no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), avaliação do Ministério da Educação - a média nacional é 4,6. No ranking, há ainda outra escola em situação semelhante, a Pablo Neruda, também da rede municipal carioca, esta encravada num grotão dominado por milícias (bandos de policiais e ex-policiais que atuam na ilegalidade em favelas do Rio). Com 72 anos de idade e há 26 no cargo de diretora do Paula Fonseca, Celia Tavares diz: "Além de ensinar, nosso trabalho aqui inclui transmitir valores básicos a crianças vindas da extrema miséria e de lares desestruturados". 
A fórmula exemplar dessas duas escolas que saltaram de um universo de tanta precariedade à elite do ensino público é tão básica quanto rara no Brasil. Sem nenhum luxo na infraestrutura, ambas contam com diretoras que, de tão comprometidas, chegam a fincar no pátio sua mesa de trabalho com o objetivo de conhecer os alunos e aproximar-se deles. Elas são capazes de manter uma equipe de professores fiel ao propósito de elevar as chances dos estudantes e, quando necessário, têm conseguido livrar-se dos menos eficazes - sem dar espaço à habitual condescendência. "Num lugar como este não há tempo a perder com incompetência", enfatiza Maria Joselza, há 23 anos no comando do colégio Pablo Neruda, na Zona Oeste carioca. A experiência das duas escolas reforça aquilo que os especialistas já aferiram: um diretor envolvido na rotina escolar é decisivo para o desempenho dos estudantes. "As melhores escolas do mundo são lideradas por gente hábil na tarefa de criar um ambiente estimulante para o aprendizado", resume o economista Claudio de Moura Castro, articulista de VEJA. 
Um dos mais abrangentes estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conduzido em setenta países, incluindo o Brasil, deixa claro que forjar um clima favorável ao ensino é um dos principais fatores para elevar a qualidade acadêmica. O conceito pode parecer etéreo, mas se traduz perfeitamente na realidade de colégios situados em zonas tomadas pela bandidagem. Alcançar "um bom clima", nesses casos, significa antes de tudo aproximar pais e moradores da vida escolar. É o que se vê nas duas escolas alçadas ao topo do ranking do MEC. No colégio Paula Fonseca, a própria diretora se encarrega de visitar os pais para tirar dúvidas e falar sobre as constantes dificuldades de aprendizado enfrentadas pelas crianças. Mais do que isso, ela tenta impedir que seus alunos enveredem pelo crime. Muitos vêm de famílias ligadas ao tráfico de drogas e, não raro, até já ingressaram na marginalidade. Conta Celia: "Tento explicar às mães e às crianças que elas podem ter um futuro longe do crime, e isso inclui dedicação aos estudos". Para sua frustração, ela nem sempre tem sucesso. 
Fornecer assistência extra a escolas em locais assolados por maus indicadores socioeconômicos faz parte do arcabouço de políticas educacionais que, já está provado, contribuem decisivamente para a excelência. O Chile é um caso exemplar de país que conseguiu aproximar o nível dos alunos pobres ao dos mais ricos na última década. Ali, o governo canaliza recursos, material de reforço e até consultoria pedagógica dada pela iniciativa privada a colégios considerados vulneráveis, segundo um indicador objetivo. Tudo condicionado a metas e avanços concretos. Um programa que abrange 15% das 1 064 escolas municipais do Rio norteia-se por preocupação parecida. A crianças de colégios localizados em áreas à margem do poder público são oferecidas atividades extras que as mantêm por mais tempo debruçadas sobre os estudos. Não há dúvida de que isso ajuda. Orgulhosa das notas obtidas à custa de muito esforço no exame oficial, Maria Joselza, do colégio Pablo Neruda, afirma: "Nem mesmo o pior dos ambientes é desculpa para não buscar - e atingir - um elevado padrão na sala de aula".

Destaque em meio à bandidagem
Fincadas em áreas dominadas por criminosos, as duas escolas municipais do Rio de Janeiro têm média bem superior à nacional, segundo o último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do MEC.

No território do tráfico: Paula Fonseca
Localização: favela Jorge Turco, na Zona Norte carioca
Nota no Ideb: 6,4

Reduto de milícia: Pablo Neruda
Localização: bairro da Taquara, na Zona Oeste carioca
Nota no Ideb: 7,2
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