sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Educação e transformação: Trincheiras de bom ensino

Vizinho à guerra travada entre facções de traficantes, o colégio municipal Paula Fonseca, no Rio de Janeiro, impõe a seus 500 alunos dificuldades típicas de escolas brasileiras encravadas em regiões pobres e violentas. Muitas vezes, as crianças dali, com idade entre 6 e 12 anos, precisam driblar corpos estendidos no meio da rua para chegar à sala de aula e têm lições ao som de tiroteio. O cenário é a favela Jorge Turco, na Zona Norte da cidade, região que produz alguns dos piores índices de homicídio do estado. Em um ambiente tão adverso como esse, é de espantar que os estudantes apresentem alto desempenho acadêmico. O colégio Paula Fonseca figura no seleto grupo composto daqueles 2% de escolas públicas brasileiras que obtiveram as melhores notas no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), avaliação do Ministério da Educação - a média nacional é 4,6. No ranking, há ainda outra escola em situação semelhante, a Pablo Neruda, também da rede municipal carioca, esta encravada num grotão dominado por milícias (bandos de policiais e ex-policiais que atuam na ilegalidade em favelas do Rio). Com 72 anos de idade e há 26 no cargo de diretora do Paula Fonseca, Celia Tavares diz: "Além de ensinar, nosso trabalho aqui inclui transmitir valores básicos a crianças vindas da extrema miséria e de lares desestruturados". 
A fórmula exemplar dessas duas escolas que saltaram de um universo de tanta precariedade à elite do ensino público é tão básica quanto rara no Brasil. Sem nenhum luxo na infraestrutura, ambas contam com diretoras que, de tão comprometidas, chegam a fincar no pátio sua mesa de trabalho com o objetivo de conhecer os alunos e aproximar-se deles. Elas são capazes de manter uma equipe de professores fiel ao propósito de elevar as chances dos estudantes e, quando necessário, têm conseguido livrar-se dos menos eficazes - sem dar espaço à habitual condescendência. "Num lugar como este não há tempo a perder com incompetência", enfatiza Maria Joselza, há 23 anos no comando do colégio Pablo Neruda, na Zona Oeste carioca. A experiência das duas escolas reforça aquilo que os especialistas já aferiram: um diretor envolvido na rotina escolar é decisivo para o desempenho dos estudantes. "As melhores escolas do mundo são lideradas por gente hábil na tarefa de criar um ambiente estimulante para o aprendizado", resume o economista Claudio de Moura Castro, articulista de VEJA. 
Um dos mais abrangentes estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conduzido em setenta países, incluindo o Brasil, deixa claro que forjar um clima favorável ao ensino é um dos principais fatores para elevar a qualidade acadêmica. O conceito pode parecer etéreo, mas se traduz perfeitamente na realidade de colégios situados em zonas tomadas pela bandidagem. Alcançar "um bom clima", nesses casos, significa antes de tudo aproximar pais e moradores da vida escolar. É o que se vê nas duas escolas alçadas ao topo do ranking do MEC. No colégio Paula Fonseca, a própria diretora se encarrega de visitar os pais para tirar dúvidas e falar sobre as constantes dificuldades de aprendizado enfrentadas pelas crianças. Mais do que isso, ela tenta impedir que seus alunos enveredem pelo crime. Muitos vêm de famílias ligadas ao tráfico de drogas e, não raro, até já ingressaram na marginalidade. Conta Celia: "Tento explicar às mães e às crianças que elas podem ter um futuro longe do crime, e isso inclui dedicação aos estudos". Para sua frustração, ela nem sempre tem sucesso. 
Fornecer assistência extra a escolas em locais assolados por maus indicadores socioeconômicos faz parte do arcabouço de políticas educacionais que, já está provado, contribuem decisivamente para a excelência. O Chile é um caso exemplar de país que conseguiu aproximar o nível dos alunos pobres ao dos mais ricos na última década. Ali, o governo canaliza recursos, material de reforço e até consultoria pedagógica dada pela iniciativa privada a colégios considerados vulneráveis, segundo um indicador objetivo. Tudo condicionado a metas e avanços concretos. Um programa que abrange 15% das 1 064 escolas municipais do Rio norteia-se por preocupação parecida. A crianças de colégios localizados em áreas à margem do poder público são oferecidas atividades extras que as mantêm por mais tempo debruçadas sobre os estudos. Não há dúvida de que isso ajuda. Orgulhosa das notas obtidas à custa de muito esforço no exame oficial, Maria Joselza, do colégio Pablo Neruda, afirma: "Nem mesmo o pior dos ambientes é desculpa para não buscar - e atingir - um elevado padrão na sala de aula".

Destaque em meio à bandidagem
Fincadas em áreas dominadas por criminosos, as duas escolas municipais do Rio de Janeiro têm média bem superior à nacional, segundo o último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do MEC.

No território do tráfico: Paula Fonseca
Localização: favela Jorge Turco, na Zona Norte carioca
Nota no Ideb: 6,4

Reduto de milícia: Pablo Neruda
Localização: bairro da Taquara, na Zona Oeste carioca
Nota no Ideb: 7,2

Diálogos entre cultura e educação na escola

Vale dizer que, embora a escola seja o local privilegiado da apropriação do conhecimento, ela não é o único na sociedade. Em grandes cidades, como São Paulo, temos vários locais de acesso a conhecimento. Existe, ainda, todo o conhecimento que pode vir por meio da internet e de todas as tecnologias hoje disponíveis, assim como de equipamentos e projetos culturais conduzidos por organizações não governamentais.
Nesse contexto, um terceiro caminho para aproximar educação e cultura pressupõe a articulação da escola com esses vários locais de conhecimento, equipamentos e projetos de cultura, de forma que esta aliança traga um impacto positivo efetivo na aprendizagem das crianças e dos adolescentes. 
Hoje, no Brasil, há projetos conduzidos por inúmeras ONGs que são belíssimos e muito importantes no sentido de levar a crianças e jovens alternativas à indústria cultural e à grande mídia e de ampliar seu universo, por meio do resgate de tradições culturais que eles ouviram em suas casas ou que eles próprios vivenciaram, nos campos das artes plásticas, literatura, comunicação, teatro e música.
Além disso, dezenas de projetos dessas organizações no país já trabalham com um conceito de cultura mais ampliado, ou seja, não uma cultura vista apenas como evento cultural, e sim relacionada com cidadania, sustentabilidade, patrimônio cultural e outros campos. 
Esses projetos podem também atuar com as escolas, inserindo as suas especificidades, de música, teatro ou outros campos, por exemplo, a questão do letramento. Em termos práticos, a ideia é que o letramento seja um eixo central nos projetos culturais, totalmente integrado às atividades e dinâmicas, seja na letra da música, no texto do teatro, na instrução para construir um instrumento.
A abertura da escola à cultura de seu território, a escolha de uma grade curricular que valorize a pluralidade e a diversidade cultural local e o intercâmbio da escola com produções e produtores de cultura na sociedade são alguns caminhos para unir educação e cultura. Os desafios, contudo, são muitos e continuam postos, e cabe aos educadores e à sociedade engendrar novas aproximações possíveis.

Maria Alice Setubal, 58 anos, é socióloga, mestre em Ciências Políticas pela USP e doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP, presidente da Fundação Tide Setubal e diretora-presidente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), onde atua há mais de 20 anos. Foi consultora do Unicef na área educacional para a América Latina e o Caribe.

Fonte: Educar para crescer

Recuperação já! O repensar pedagógico.

Já é amplamente conhecida a premissa de que todos são capazes de aprender, sem exceção - e que cada um se desenvolve de um jeito próprio - e num ritmo particular. "Os professores sabem que a classe não responde de forma homogênea à apresentação de um conteúdo de estudo e que nem todos compreendem usando as mesmas estratégias cognitivas", explica Jussara Hoffmann, especialista em avaliação e professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O que fazer, então? Cipriano Luckesi, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), sugere a seguinte abordagem: "Se, ao verificar quem aprendeu o quê, o professor percebe que um ou mais estão com dificuldade, é preciso repensar as estratégias e materiais para eles". Ou seja, para quem acredita que ninguém vai ficar para trás, a única saída é fazer a tal recuperação sempre. Sempre significa durante todo o ano letivo. 
A chave do processo é avançar e retroceder ao mesmo tempo. Quem atingiu o esperado tem de continuar aprendendo. E os demais não devem ser abandonados, certo? "É preciso trabalhar as dúvidas em atividades, dentro da própria sala de aula, assim que elas aparecem, em vez de deixar que se acumulem", reforça Maria Celina Melchior, professora da pós-graduação em Educação e coordenadora pedagógica da Faculdade Novo Hamburgo, na Grande Porto Alegre. 
O primeiro passo do professor é diagnosticar, em detalhes, o que cada um sabe. Caso muitos tenham a mesma dificuldade: é hora do professor retomar o conteúdo de um jeito novo, pois a aula original provavelmente foi ineficaz. Se os problemas são diferentes, o segredo também é apresentar a matéria de forma a proporcionar aos que precisam a construção de outros caminhos. 

Matéria original: Nova Escola
Site de pesquisa; Educar para crescer

Vídeo: Papel das expectativas dos professores sobre a aprendizagem dos alunos por Emília Ferreiro



Fonte: Revista Nova Escola

Vídeo: Yves de La Taille explica as três dimensões educacionais do limite

 

O professor da Universidade de São Paulo (USP) Yves de La Taille explica quais são as três dimensões educacionais do limite. Ele e a professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Telma Vinha participam do Grandes Diálogos, promovido por NOVA ESCOLA, que discutiu indisciplina e educação moral.

 Fonte: Revista Nova Escola

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Howard Gardner, o cientista das inteligências múltiplas

Formado no campo da psicologia e da neurologia, o cientista norteamericano Howard Gardner causou forte impacto na área educacional com sua teoria das inteligências múltiplas, divulgada no início da década de 1980. Seu interesse pelos processos de aprendizado já estava presente nos primeiros estudos de pós-graduação, quando pesquisou as descobertas do suíço Jean Piaget (1896-1980). Por outro lado, a dedicação à música e às artes, que começou na infância, o levou a supor que as noções consagradas a respeito das aptidões intelectuais humanas eram parciais e insuficientes. Até ali, o padrão mais aceito para a avaliação de inteligência eram os testes de QI, criados nos primeiros anos do século 20 pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911) a pedido do ministro da Educação de seu país. O QI (quociente de inteligência) media, basicamente, a capacidade de dominar o raciocínio que hoje se conhece como lógico-matemático, mas durante muito tempo foi tomado como padrão para aferir se as crianças correspondiam ao desempenho escolar esperado para a idade delas. "Como o aprendizado dos símbolos e raciocínios matemáticos envolve maior dificuldade do que o de palavras, Binet acreditou que seria um bom parâmetro para destacar alunos mais e menos inteligentes", diz Celso Antunes, coordenador-geral de ensino do Centro Universitário Sant’ Anna, em São Paulo. "Mais tarde, Piaget também destacou essa dificuldade e, dessa forma, cresceu exponencialmente a valorização da inteligência lógico-matemática."

Fonte: Nova Escola

Emilia Ferreiro, a estudiosa que revolucionou a alfabetização

Nenhum nome teve mais influência sobre a educação brasileira nos últimos 30 anos do que o da psicolinguista argentina Emilia Ferreiro. A divulgação de seus livros no Brasil, a partir de meados dos anos 1980, causou um grande impacto sobre a concepção que se tinha do processo de alfabetização, influenciando as próprias normas do governo para a área, expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. As obras de Emilia - Psicogênese da Língua Escrita é a mais importante - não apresentam nenhum método pedagógico, mas revelam os processos de aprendizado das crianças, levando a conclusões que puseram em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da escrita. "A história da alfabetização pode ser dividida em antes e depois de Emilia Ferreiro", diz a educadora Telma Weisz, que foi aluna da psicolinguista.
Emilia Ferreiro se tornou uma espécie de referência para o ensino brasileiro e seu nome passou a ser ligado ao construtivismo, campo de estudo inaugurado pelas descobertas a que chegou o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) na investigação dos processos de aquisição e elaboração de conhecimento pela criança - ou seja, de que modo ela aprende. As pesquisas de Emilia Ferreiro, que estudou e trabalhou com Piaget, concentram o foco nos mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à escrita. De maneira equivocada, muitos consideram o construtivismo um método.
Tanto as descobertas de Piaget como as de Emilia levam à conclusão de que as crianças têm um papel ativo no aprendizado. Elas constroem o próprio conhecimento - daí a palavra construtivismo. A principal implicação dessa conclusão para a prática escolar é transferir o foco da escola - e da alfabetização em particular - do conteúdo ensinado para o sujeito que aprende, ou seja, o aluno. "Até então, os educadores só se preocupavam com a aprendizagem quando a criança parecia não aprender", diz Telma Weisz. "Emilia Ferreiro inverteu essa ótica com resultados surpreendentes." 

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Fonte: Nova Escola 

Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência

Paulo Freire (1921-1997) foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra.
Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto é, as "escolas burguesas"), que ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos. "Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade", escreveu o educador. Ele dizia que, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los.

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Fonte: Nova Escola
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